Tocava o violão sem parar. Tocava, tocava pensando nisso ou naquilo, a cabeça aqui ou acolá. Simplesmente tocava, e acho que nem se importava tanto com o som que saía do instrumento, o importante é que distraído e colorido ele tocava, mais sentindo que ouvindo, apreciando cada acorde. Em Lá maior, transitava pelas passagens brasileiras, lembrando grandes e nem tão grandes nomes da música, uns versos próprios, e também alguns impróprios, talvez não próprios para ele, por que naquela ocupação, a única coisa própria era tocar, tocar e tocar, independente da sonoridade do tocado.
E assim, tocando, ele compreendia a complexidade do mundo, toda a teia de variados tipos de relacionamentos possíveis, embora eu pense que nem percebesse isso, pois tudo o que ali se via, era um homem que tocava e sorria; tocava e só ria, o que não faria muito sentido para muitos, afinal, quem vai entender alguém que compreende o mundo sem saber que o compreende?
Ás vezes até me parecia hesitar, a expressão ficava mais cinzenta, e então baixava o tom, e lá ia ele, tocando chorinhos em Lá menor, lamuriando-se em Dó sustenido e suspirando em Ré Bemol; parecia ignorar minha presença, parecia ignorar o local público em que se encontrava, parecia ignorar aqueles tantos que o ignoravam - por que muitos o ignoravam. Quem se importa com alguém que toca sem saber o que toca, ri sem saber do que e chora sem derramar lágrimas?. Posso quase jurar que em muitos momentos o violão demonstrava mais sentimento e expressão que ele, que tocava, com a incrível capacidade de chorar e sorrir sem emoção, e de se emocionar sem chorar ou sorrir.
Quando eu crescer, eu disse, quero ser que nem ele.
quarta-feira, 18 de julho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
quase consigo te ver parada na rua olhando alguém tocando violão e tu tendo idéias mirabolantes sobre isso, e depois escrevendo o dito cujo ;P
Postar um comentário