terça-feira, 25 de setembro de 2007

Visão divina.

Não me lembro muito bem sobre o que estávamos falando quando aconteceu, tudo o que posso dizer é que estava conversando com uma garota quando bateu aquele vento. Fez os cabelos voarem, fez tapar a cara para se protejer da areia que vinha nos olhos. Do meu ângulo, foi bonito de ver, até. Rimos um pouco, quando ele chegou. Vinha assim, como quem não quer nada, andando devagar, um suéter verde-água meio bizarro, uma calça branca, sabe? Não sê vê sempre um tipo peculiar como aquele.
Eu ri, ela riu, os outros também riram, imaginando mais um discurso religioso, desses evangélicos que ouvimos poraí quando damos conversa pra estranhos como ele. Os outros não tinham muita consciência da complexidade da situação, não podiam voar como nós, afinal. Eles seguiam o fluxo, nós íamos categóricamente contra ele. Eu, ela, e mais uma. Foi tão inacreditável, que chegamos a questionar a veracidade do acontecimento, enquanto ele acontecia mesmo. É viagem, ou isso ocorre mesmo? Pois ocorria. Chegou dizendo que o vento que veio antes, vinha com ele. Alguma coisa sobre Jesus e sobre felicidade. Eu ria, ela ria, a outra ria. Sórria. Os outros estavam assustados, mas nós estávamos felizes como nunca, o produto era bom, se é que você me entende. Fica a dica. Não questionei muito, mas disse que não acreditava em deus, no intento de me livrar daquele figurão, o que não funcionou muito. Esses fanáticos devem gostar de ouvir isso, por que toda vez que tento me livrar deles com essa resposta, eles se empolgam mais ainda, na tentativa de me convencer da existência do divino. Eu sei que o divino existe, sei que estava lá, mas meus conceitos são um pouco diferentes dos conceitos religiosos, ahm? Divino pra mim pode ser uma troca de olhares, uma simetria de pensamentos, uma viagem constante e mútua, algo do gênero. Não deus. Deus sou eu quem faço, ok?
Bom, depois que aceitamos o fato como fato verídico, e depois que ele deu encima de mim, de uma amiga, e nos falou muito sobre felicidade, resolveu ir embora. Prontamente, começamos a rir desenfradamente. Ela gargalhava, eu ria e achava linda (a situação!), a outra continuava perplexa, os outros comentavam o assunto, assustados, como era de se esperar. A sobriedade destrói os melhores momentos, ás vezes. Sorte de nós três, que de sóbrias não tínhamos nada.
E de repente ele volta. Não falem mal de mim, ele disse. Pode lhes prejudicar.
Como assim? O que foi isso, uma ameaça? Estava segura demais comigo mesma para sentir medo, então só ri. Ela já estava no auge de seu vôo, não teve muita reação. A outra, perplexa. Os outros? Não lembro. Disse-nos para prestar atenção no seu andar, coisa que não era lá muito agradável de se ver, mas é claro que olharíamos de qualquer maneira, é impossível não prestar atenção numa figura bizarra dessas, a não ser que alguém mais perto desvie sua atenção. Me esforecei. Não é que o Fulano saiu saltidando e dando pulinhos a la Charles Chaplin por aí? Inacreditável.
Ficamos rindo e matutando sobre o assunto por um tempo, e fomos embora.
O fato é que nos olhamos, eu e ela, e concluímos ter visto Deus. Só podia ser, toda aquela certeza que ele tanto dizia ter de tudo, toda aquela calma...
Olhei fundo nos olhos dela, pra ver se ela entendia o que estava acontecendo da mesma forma que eu. Posso dizer com certeza: foi uma visão divina.
Fica a dica.